sábado, 25 de dezembro de 2010

A menina e o anjo

     Era uma vez um anjo que vivia numa longínqua cidade há vários milhares de quilômetros do que podemos conhecer. Certo dia ele estava caminhando, numa de suas visitas, e se deparou com uma menina perdida no meio da estrada. Ele a perguntou aonde ela estava indo e a verdade é que ela não sabia muito bem. Ele parou, sentou-se e a convidou para conversar e falaram por horas sobre todos os assuntos possíveis.

     Ela sabia que seu caminho seria longo e por isso prosseguiu andando, e todos os dias naquele mesmo horário, onde quer que ela estivesse o anjo aparecia para continuar a conversa. Então a menina diariamente, ansiosa, esperava por sua visita e sua companhia, esperava por aquele pequeno espaço de tempo perfeito. O anjo por sua vez com toda a bondade, sabedoria e humildade que sempre o acompanharam, explicava quais seriam os caminhos mais propícios e quais seriam os mais complicados.

     A menina ouvia atentamente e tentava seguir os conselhos daquele que passou a ser seu confidente. Confiou suas idéias mais doidas, seus projetos, seus planos pro futuro e o anjo a cada palavra dela sabia exatamente o que dizer, o que fazer. Um belo dia a menina finalmente descobriu o seu caminho. Descobriu onde estava e aonde queria chegar. Ela caminhou incessantemente até que descobriu um lugar onde poderia ficar e depois de muito tempo parou e aproveitou a brisa da tarde. O anjo a observou de longe e ao ver a menina tão serena por ter achado o seu mundo, tão feliz por conseguido passar por caminhos tão difíceis, não pôde fazer mais que isso, pois sabia que sua missão já havia sido cumprida e assim ele decidiu voltar para a sua morada. E o anjo teve a certeza de que a menina estava bem ao vê-la com o maior sorriso que já tinha visto. Então ele se recolheu.

     Quando a menina percebeu que tinha conseguido chegar ao seu destino foi correndo contar ao anjo o acontecido. Ela esperou por horas, andou por algum tempo e não o encontrou. O anjo não percebeu que na verdade a menina tinha sim ficado feliz por ter se encontrado, mas mais feliz ainda por ter a oportunidade de contá-lo como tinha sido o trajeto e as coisas que tinha visto, pois ela sabe que não importa que seja vitória ou derrota, o mais importante de tudo é ter alguém pra compartilhar seus momentos.

     A menina não sabe quando ele voltará, mas estará lá para recebê-lo e contar suas histórias com o mesmo brilho nos olhos que tinha quando se conheceram. Até hoje podemos ver a menina nos caminhos aguardando a presença do anjo. Ela sabe que ele pode não voltar, mas ela sempre estará o esperando. E se algum dia o anjo aparecer, ele poderá ter certeza que o maior sorriso do mundo sempre foi pra ele.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Carta

   
    Querida amiga,

    O mundo tem mudado, mas parece que só agora notamos. Nós continuamos as mesmas, ou pelo menos achamos isso e também achamos que não estamos acompanhando todo esse processo. Sei que as coisas estão bem confusas e às vezes parece difícil recomeçar, mas lembre-se que um recomeço é sempre um começo,então faça o mesmo que você já fez tão bem.

    Te envio essa carta pra pedir que tenha paciência e não faça mais do que pode. Não queira mais do que alguém possa te dar, pois assim você não criará espaços que não possam ser preenchidos. Tente preencher esses espaços com viagens, cursos e tudo o que possa se acrescentado na sua vida. Não mude por alguém. Não mude por ninguém. Não deixe ninguém levar o seu brilho por mais que coisas chatas tentem ofuscá-lo. Quando estiver sofrendo pressões no trabalho, na faculdade, no curso de inglês me ligue, iremos viajar. Quando estiver sofrendo por amor chore tudo o que quiser chorar, estarei ao seu lado segurando uma caixa de lenços e te lembrando de como esse mundo estranho ainda é bom e o quanto podemos aproveitá-lo.

    Saiba que o amor das nossas vidas depende do momento em que estamos nas nossas vidas, então o amor das nossas vidas que perdemos hoje provavelmente será só um cara comum amanhã. Pois eu já te disse que o amor das nossas vidas, o verdadeiro, virá para ficar. Sei que os homens são complicados sim e que eles fazem coisas que não podemos compreender, mas se ele realmente gostar de você seguirá fazendo aquelas coisas que você não conseguirá decifrar, só que mesmo que ele não diga, fará pensando em você.

    Então fique tranquila. Guarde seus neurônios pra ler um bom livro e ver um filme legal ao invés de ficar pensando em conspirações. Tudo bem amiga, eu também não consigo fazer isso, mas vamos tentar começar na próxima semana. E se ele sumir, suma em dobro. Homem que faz mulher esperar não merece telefonemas, pedidos de explicações, muito menos torpedos apaixonados, eles merecem somente o nosso silêncio. Isso é mais difícil ainda, mas acredito que estejamos bem perto de conseguirmos, por isso só estou repetindo para que fique bem fixado, muitas vezes fixado. Só pra ter certeza repita cem vezes em voz alta a penúltima frase.

    E se ele aparecer não faça de sua aparição o grande acontecimento da sua vida, mas pense somente no que isso tem a agregar ao seu mundo. E nunca, nunca o espere. A espera traz ansiedade e ansiedade engorda quem não quer engordar e emagrece quem não quer emagrecer. Então caso ele não apareça pelo menos você conseguirá manter seu peso.

    Mas deixando o pessimismo feminino de lado o que tenho a dizer é que depois dos desastres e dos maremotos sempre vem a calmaria. Isso mesmo amiga. E calmaria não significa vazio, mas sim um momento pra planejar e pra arrumar o guarda-roupas. Deixar de lado o que já não serve e abrir espaço para roupas novas. Não importa quanto tempo levará para arrumá-lo. Pode ser uma semana ou um ano, mas uma hora você sentirá vontade de comprar novas roupas ou irá encontrá-las quando menos esperar numa vitrine de uma loja que você passou por acaso. E assim é a vida. Agora você está mais reflexiva, mas uma hora você se sentirá mais confortável com o mundo e o mundo estará de portas abertas pra recebê-la, pois ele sabe o quanto você faz a diferença.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Isso

    Ela estava bem. Ele era um cara perdido no mundo, com aquele ar de perdido, aquele jeito de perdido não querendo ser achado. Os dois se encontraram. Ela relutou, mas aquele ar de perdido agora já querendo ser achado foi tão convincente e comovente que ela resolver ceder. Sabemos que quem cede geralmente perde. Ela perdeu o brilho, perdeu o entusiasmo e perdeu a fé. A mentira desgasta muito mais do que as ondas que batem nas rochas próximas ao mar. Ela teve que reconstruir seu mundo e ele por sua vez seguiu construindo sua desconstrução com aquele jeito de ser tão óbvio, com suas palavras complexas e vazias, com sua superioridade que passa despercebida. Ela acreditou, buscou e sonhou. Ele acreditou, mas no primeiro minuto se afastou e mentiu.


    Hoje ela não o quer na sua vida. Ela quer mais. Ele também quer mais. Ela briga com a tecnologia, anda por lugares desconhecidos, peca por excesso de sinceridade, quer sempre estar junto. Ele reclama da vida, reclama das pessoas, reclama do mundo. Ela quer mais. Ele já tem mais. Ela ainda tem fé no mundo, mas está pensando que se talvez ela resmungar e ameaçar se jogar no fundo do mar o mundo a dê mais atenção. Talvez seu cosmos lembre-se de sua existência. Porque aqui quietinha tentando ser positiva ela ainda não conseguiu muita coisa. Ao contrário das pessoas que resmungam, mentem, reclamam, amam e são felizes.

sábado, 19 de junho de 2010

É

Pois é

Pedir demais ter fé.

Achar que tudo vai dar pé,

Andar sem querer dar ré.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Dia dos namorados

    Amanhã é dia dos namorados. Dia comum para algumas pessoas. A maioria dos solteiros não se importa. Outros se descabelam com o fato de passar mais um ano sem ninguém. Acredito que eu esteja no meio-termo. É óbvio que não morreremos por passarmos essa data sozinhos, mas é fato também que não queremos cruzar com casais apaixonados nesse dia. Fugimos de cinemas, shows, bares , restaurantes e toda aglomeração que avistarmos. Por mais que não liguemos, não nos importemos, preferimos instintivamente passar longe de todos os lugares que tenham decoração cafona de coração e ursinhos pendurados. E esse ano ainda temos um fator surpresa que mesmo subliminarmente está nos deixando sem saber o que fazer. O dia dos namorados caíra num sábado. Então não sabemos se sairemos pra alguma balada frenética de solteiros, se iremos em algum barzinho ignorar os casais ou se ficamos em casa ignorando o próprio dia dos namorados e sabendo que para conseguirmos isso não poderemos ligar a TV. Mas eu não me queixo.

    Hoje estava parando pra pensar quantos são os casais que passam juntos o dia dos namorados e que realmente estão apaixonados um pelo outro? Muitas vezes pode ser só um ou outro. E isso é sofrimento certeiro. Ou quantos casais estão apaixonados, mas não estão preparados pra assumir um relacionamento? Ou quantos casais irão se presentear com artigos caros, dividir a conta no cartão em 6 vezes e em julho irão terminar? E assim terão que lembrar do término toda a vez que forem pagar o boleto do cartão, até o fim do ano.

    Após refletir sobre isso pude perceber que independente de estar ou não namorando existem pessoas felizes, já realizadas e pessoas que ainda estão buscando a felicidade. E essa felicidade independe de estarmos ou não ao lado de uma pessoa.

    Claro que quando encontrarmos aquela pessoa que esteja no mesmo momento que o nosso, que nos queira bem e que queria a mesma coisa que queremos, nossa felicidade vai ser triplicada, mas enquanto isso o tempo continua e as coisas acontecem.

    A verdade é que tenho lidado bem com essa coisa toda. Sei que nesse instante só cederia um pouco do meu tempo a alguém que valesse a pena. Digo isso pois tive a sorte de ter pessoas no meu caminho preenchem todos os espacinhos do meu coração tão bem, que os meus espacinhos se tornaram mais valiosos.

    Então dedico esse dia dos namorados aos casais apaixonados, aqueles em que os namorados ficam felizes ouvindo a conversa sem noção das amigas da sua namorada por saber que ela está feliz. Dedico aos solteiros que estão indo ao encontro da felicidade. E principalmente dedico àquelas pessoas que conseguem fazer das nossas vidas uma vida mais interessante e do nosso coração um lugar melhor pra se viver.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

La Femme

       Hoje nós mulheres temos todas as responsabilidades de um homem na vida profissional, cuidamos das nossas famílias, dos amigos e ainda arrumamos um tempinho pra nos cuidar. É muito mais aceitável que uma mulher que passe dos vinte e cinco esteja solteira, já que temos muitas funções a desempenhar na sociedade atual. Mas como reflexo disso veio também uma mudança no trato dos relacionamentos e uma mudança no comportamento dos homens. É fato que a cada dia está mais difícil arrumar um cara legal, que tenha coisas que gostemos e que nos trate com respeito. E como a oferta de homens está cada vez mais escassa, eles podem se dar ao luxo de escolher bastante e descartar qualquer uma que no primeiro momento tenha qualquer indício de algo que não os agrade. Então o que vemos é uma enxurrada de livros de auto-ajuda e manuais que descrevem como a mulher deve se portar perto de um homem. A mulher deve estar sempre linda, dizer coisas espirituosas, não se chatear com qualquer bobagem, não perguntar o porquê de seus sumiços e ignorá-lo toda vez que ele faça algo que você não goste. Seria muito fácil se conseguíssemos fazer isso. Eles teriam a mulher ideal e a mulher por sua vez conseguiria amarrar o homem que quisesse. Então não podemos mais ser passionais? Não podemos ficar tristes e chorosas naquele dia que estamos de TPM , que dá tudo errado e ele simplesmente te ignora? Acho estranho essa história de não demonstrarmos mais nossos sentimentos. Nós transbordamos sentimentos.
        Podemos trabalhar em multinacionais, exercer cargos de chefia, mas somos mulheres. Somos sensíveis, choramos, berramos às vezes.Como iremos lembrar da página 98 daquele livro que dizia “não se exaltar durante situações extremas” quando você encontra seu namorado com outra no carro? Obviamente que vamos pegar qualquer coisa que possa arranhar toda a carroceria do carro mais rapidamente e provavelmente se tivéssemos algum livro na nossa frente só serviria pra tacá-lo na cabeça dele. E o homem realmente acha essa atitude totalmente incorreta. A mulher deve ter postura, não deve se abalar por qualquer coisa e nem ficar reclamando. Isso seria bom se eles tivessem um pouco ou alguma consideração. A verdade é que se você reclamar eles te dispensam e se não reclamar eles podem pensar no seu caso. E assim muitas mulheres acabam se passando por loucas por demonstrarem seus sentimentos, por se exaltarem e por dizerem tudo o que sentem. O homem geralmente se vira e nunca mais volta.
       Ser passional pode nem ser bom em alguns pontos de vista, mas acho não podemos ser omissas. É fácil? Não é mesmo. Mas quando o relacionamento acaba é porque as palavras e as possibilidades se esgotaram. Mulheres passionais tentam até o último instante e dizem o que querem até o último minuto. São as mais corajosas, mais destemidas e as mais temidas. Só digo para que não tenhamos medo de falar , de agir, de mostrar, pois homem nenhum tem o direito de nos diminuir e se ele te fez brigar, chorar e sofrer é porque ele realmente não valia a pena.

domingo, 30 de maio de 2010

Último

O primeiro sorriso. A primeira troca de olhares. As primeiras palavras trocadas. O primeiro torpedo carinhoso. A primeira ligação. O primeiro encontro. A primeira vez que ficam nervosos. O primeiro beijo. Os primeiros pensamentos. A primeira noite sem dormir. As primeiras intenções. O primeiro dia. A primeira noite. O primeiro choro. A primeira falta do olhar. As primeiras palavras não ditas. A primeira ausência de carinho. A primeira indiferença. A primeira vez que ficam tristes. Os primeiros pensamentos ruins. A primeira noite sem dormir. A primeira distância. O primeiro dia. A primeira noite. O primeiro fim.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Um, dois, três...

A maldita espera. Não queria que existisse essa palavra no vocabulário. Ela me atrapalha e corrói tudo demais. Só de pronunciá-la já sinto um pesar na minha voz. Espera que combina com atraso, que combina com angústia, que combina com falta. O coração parece que é tomado pela espera. Quem nos faz esperar nos toma o coração. Faz com que aquele cara dos Jogos Mortais se torne simpático, até. Pois ele nos induziria a entregar nosso coração como parte do jogo, porém nos ofereceria outra alternativa. Quem nos faz esperar não oferece alternativas. Nos arranca o coração sem que percebamos. E muitas vezes gostamos disso. Não gostamos disso, nos conformamos com isso.Eu tenho andado por aí sem coração. Dizem que ele foi visto à noite, perdido e sozinho, perambulando pela Av. Paulista tentando achar repouso. Se alguém encontrá-lo por favor não digam nada. Tenho certeza que ele não voltará enquanto não padecer por toda angústia do mundo. Coração que espera perde seu destino. Enquanto isso nós ficamos com aquele aperto no peito de não ter coração e de perder a fé pela ausência de serenidade. Ele sabe que estou aqui e que pode aparecer a qualquer hora, machucado, dilacerado, venha do jeito que estiver e que a vida quiser. Estarei o esperando de banho tomado, roupa de missa, debruçada na janela. Não importa o tempo que levarei pra cuidá-lo e quantas feridas terão que ser cicatrizadas, só quero que ele retorne e traga novamente meus sonhos bons.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Cisma

Eu cismei com você. Cismei que poderia te achar. Cismei que poderia te achar quando eu bem quisesse. Cismei que poderíamos caminhar do jeito que aqueles casais caminham e não separam suas mãos dadas quando se deparam com algum obstáculo. Assim que me lembrei que não somos um casal e que geralmente sou eu uma daquelas pessoas distraídas que separam casais andando de mãos dadas nas ruas. Você pega o metrô e eu vou ao cinema. Poderíamos pegar o metrô para ir ao cinema. Mas a vida não é assim tão prática. Eu sou prática. Pegaria aquele metrô mesmo que ele estivesse há trezentos quilômetros ou há um milhão de anos-luz se eu soubesse que você estaria nele. Te encontraria e você estaria sentado, totalmente inerte, me sentaria ao seu lado, mas me perguntaria o que eu estaria fazendo ali. Não dá pra saber. Quando você fala daquele jeito que eu gosto faz com que eu comprometa todo o meu raciocínio. É como se eu pudesse fazer tudo e passar por tudo sem nenhum arranhão. E faço tudo e passo por tudo. Mas pra quê? E quando abro os olhos estou pulando do precipício sem saber o motivo. Queria que alguém pudesse encher meu cérebro de razão. Se tivesse uma árvore de razão eu juntaria todas as minhas economias pra tê-la. Você está sentado no banco daquele metrô, mas você está distante demais pra perceber que pode ser bom. Prefere ficar sozinho olhando na janela. Você é como aquelas lindas plantinhas que encontramos no meio de uma trilha e ficamos na dúvida se devemos levá-la pra colocarmos no vasinho ou deixá-la em seu habitat e ficarmos só observando. E eu estou nesse ponto. Não sei se te levo ou se te deixo. Nem sei se no vasinho você vai ficar tão interessante o quanto você é aí. E nesse instante estou olhando pra plantinha.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Inteiro

    Somos jovens e morreremos velhos. Você nasce, cresce, envelhece e morre. Todos nós sabemos disso. Quando nossos avôs morrem ficamos tristes, abatidos, mas esse é o ciclo da vida. Todos nós aceitamos isso. E quando alguém que deveria estar nesse exato momento rindo numa roda de amigos não está lá? E quando você tem certeza que amanhã e depois de amanhã ela também não estará ali? E quando a pessoa traça planos a longo prazo e esse prazo já não existe mais? Não conseguimos saber e muito menos aceitar.

    O que nós sabemos é que viajaremos nos feriados, que viveremos amores, que sofreremos de amor, que trabalharemos muito, que teremos amizades curtas, que teremos amizades pra vida inteira. Mas como medir a vida inteira?

    Hoje descobri que a vida não se mede. A vida se vive. A vida inteira pode ser uma medida de grandeza, porém não possui nenhuma padronização. A minha vida inteira não é a sua vida inteira. Mas as duas vidas são inteiras. E o que podemos fazer diante dessa constatação? Encher nosso inteiro. E como não sabemos o limite desse inteiro, seria desnecessário dizer que nele não cabem coisas que não valham a pena. Obviamente que existem coisas que preencherão nosso inteiro e que não são exatamente o que nós queríamos, mas se estiverem fora do nosso alcance escolhê-las deveremos aceitá-las, pois algo que nos entristece ou que nos priva pode nos fortalecer. Agora cabe encher o restante do nosso inteiro de coisas que podemos escolher. Então escolheremos as conversas intermináveis, escolheremos o mar, escolheremos não correr dos pingos de chuva, escolheremos sermos ridículos de vez em quando, escolheremos rir do que for ridículo, escolheremos a gargalhada mais alta, escolheremos o sorriso mais sincero. Não escolheremos os amigos, pois por sorte são eles que nos escolhem. Escolheremos as coisas simples da vida, escolheremos não correr contra o tempo. Contra o tempo não se corre, pois caminhamos junto com ele. Escolheremos nossas escolhas.

    Talvez achemos que alguém possa ter enchido seu inteiro antes do tempo. Se foi enchido é porque já é inteiro. Lembremos de quantos sorrisos que ela deu, quantos abraços, quantas lágrimas, quantas situações incrivelmente hilárias, quantos tombos, quantas reviravoltas , quantas decepções, quantas alegrias, quantos amigos. Daí podemos crer que não é que seu inteiro seja menor que o nosso, mas ela já teve mais quantos que nós. Suas escolhas foram feitas. Ela teve suas conversas intermináveis, escolheu o mar, escolheu não correr dos pingos de chuva, escolher ser ridícula de vez em quando, escolheu rir do que foi ridículo, escolheu a gargalhada mais alta, escolheu o sorriso mais sincero. Foi escolhida por seus amigos. Escolheu as coisas simples da vida, escolheu não correr contra o tempo .

    Então a melhor escolha que temos a fazer é lembrarmos dos sorrisos, dos abraços, da alegria, das conversas intermináveis, das gargalhadas, da chuva e esquecermos do tempo. O tempo não existe quando existem boas recordações.





quinta-feira, 25 de março de 2010

2010

Preguicinha que tomou conta de mim e fez com que me ausentasse por alguns bons meses. Espero conseguir continuar a escrever com regularidade, pois só assim consigo desembolar esse grande novelo de pensamentos. Muitas coisas mudaram e muitas coisas não mudaram. Minhas esperanças não mudaram, mas já não conseguem caminhar ao lado das minhas crenças. Não estou pessimista, talvez mais reflexiva. É bom refletir pra avaliarmos os riscos e sabermos o que realmente vale a pena arriscar. Alguém pode achar que seja sinal de fraqueza, mas também pode ser experiência. Hoje não quero mais bater a cabeça na parede e muito menos me jogar no abismo. Quero ficar assistindo filminhos comendo pipoca e discutir coisas sem nexo numa roda de amigos. Quero ter a concentração de um monge pra tentar ler aquele livro de mil páginas que ainda não folheei. Aventuras só as quero se forem acompanhadas de uma trilha que termina numa praia paradisíaca. E principalmente quero ter certeza quando eu tiver que correr riscos. Mas e se não existir certeza?