terça-feira, 6 de abril de 2010

Inteiro

    Somos jovens e morreremos velhos. Você nasce, cresce, envelhece e morre. Todos nós sabemos disso. Quando nossos avôs morrem ficamos tristes, abatidos, mas esse é o ciclo da vida. Todos nós aceitamos isso. E quando alguém que deveria estar nesse exato momento rindo numa roda de amigos não está lá? E quando você tem certeza que amanhã e depois de amanhã ela também não estará ali? E quando a pessoa traça planos a longo prazo e esse prazo já não existe mais? Não conseguimos saber e muito menos aceitar.

    O que nós sabemos é que viajaremos nos feriados, que viveremos amores, que sofreremos de amor, que trabalharemos muito, que teremos amizades curtas, que teremos amizades pra vida inteira. Mas como medir a vida inteira?

    Hoje descobri que a vida não se mede. A vida se vive. A vida inteira pode ser uma medida de grandeza, porém não possui nenhuma padronização. A minha vida inteira não é a sua vida inteira. Mas as duas vidas são inteiras. E o que podemos fazer diante dessa constatação? Encher nosso inteiro. E como não sabemos o limite desse inteiro, seria desnecessário dizer que nele não cabem coisas que não valham a pena. Obviamente que existem coisas que preencherão nosso inteiro e que não são exatamente o que nós queríamos, mas se estiverem fora do nosso alcance escolhê-las deveremos aceitá-las, pois algo que nos entristece ou que nos priva pode nos fortalecer. Agora cabe encher o restante do nosso inteiro de coisas que podemos escolher. Então escolheremos as conversas intermináveis, escolheremos o mar, escolheremos não correr dos pingos de chuva, escolheremos sermos ridículos de vez em quando, escolheremos rir do que for ridículo, escolheremos a gargalhada mais alta, escolheremos o sorriso mais sincero. Não escolheremos os amigos, pois por sorte são eles que nos escolhem. Escolheremos as coisas simples da vida, escolheremos não correr contra o tempo. Contra o tempo não se corre, pois caminhamos junto com ele. Escolheremos nossas escolhas.

    Talvez achemos que alguém possa ter enchido seu inteiro antes do tempo. Se foi enchido é porque já é inteiro. Lembremos de quantos sorrisos que ela deu, quantos abraços, quantas lágrimas, quantas situações incrivelmente hilárias, quantos tombos, quantas reviravoltas , quantas decepções, quantas alegrias, quantos amigos. Daí podemos crer que não é que seu inteiro seja menor que o nosso, mas ela já teve mais quantos que nós. Suas escolhas foram feitas. Ela teve suas conversas intermináveis, escolheu o mar, escolheu não correr dos pingos de chuva, escolher ser ridícula de vez em quando, escolheu rir do que foi ridículo, escolheu a gargalhada mais alta, escolheu o sorriso mais sincero. Foi escolhida por seus amigos. Escolheu as coisas simples da vida, escolheu não correr contra o tempo .

    Então a melhor escolha que temos a fazer é lembrarmos dos sorrisos, dos abraços, da alegria, das conversas intermináveis, das gargalhadas, da chuva e esquecermos do tempo. O tempo não existe quando existem boas recordações.