A maldita espera. Não queria que existisse essa palavra no vocabulário. Ela me atrapalha e corrói tudo demais. Só de pronunciá-la já sinto um pesar na minha voz. Espera que combina com atraso, que combina com angústia, que combina com falta. O coração parece que é tomado pela espera. Quem nos faz esperar nos toma o coração. Faz com que aquele cara dos Jogos Mortais se torne simpático, até. Pois ele nos induziria a entregar nosso coração como parte do jogo, porém nos ofereceria outra alternativa. Quem nos faz esperar não oferece alternativas. Nos arranca o coração sem que percebamos. E muitas vezes gostamos disso. Não gostamos disso, nos conformamos com isso.Eu tenho andado por aí sem coração. Dizem que ele foi visto à noite, perdido e sozinho, perambulando pela Av. Paulista tentando achar repouso. Se alguém encontrá-lo por favor não digam nada. Tenho certeza que ele não voltará enquanto não padecer por toda angústia do mundo. Coração que espera perde seu destino. Enquanto isso nós ficamos com aquele aperto no peito de não ter coração e de perder a fé pela ausência de serenidade. Ele sabe que estou aqui e que pode aparecer a qualquer hora, machucado, dilacerado, venha do jeito que estiver e que a vida quiser. Estarei o esperando de banho tomado, roupa de missa, debruçada na janela. Não importa o tempo que levarei pra cuidá-lo e quantas feridas terão que ser cicatrizadas, só quero que ele retorne e traga novamente meus sonhos bons.
sexta-feira, 28 de maio de 2010
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Cisma
Eu cismei com você. Cismei que poderia te achar. Cismei que poderia te achar quando eu bem quisesse. Cismei que poderíamos caminhar do jeito que aqueles casais caminham e não separam suas mãos dadas quando se deparam com algum obstáculo. Assim que me lembrei que não somos um casal e que geralmente sou eu uma daquelas pessoas distraídas que separam casais andando de mãos dadas nas ruas. Você pega o metrô e eu vou ao cinema. Poderíamos pegar o metrô para ir ao cinema. Mas a vida não é assim tão prática. Eu sou prática. Pegaria aquele metrô mesmo que ele estivesse há trezentos quilômetros ou há um milhão de anos-luz se eu soubesse que você estaria nele. Te encontraria e você estaria sentado, totalmente inerte, me sentaria ao seu lado, mas me perguntaria o que eu estaria fazendo ali. Não dá pra saber. Quando você fala daquele jeito que eu gosto faz com que eu comprometa todo o meu raciocínio. É como se eu pudesse fazer tudo e passar por tudo sem nenhum arranhão. E faço tudo e passo por tudo. Mas pra quê? E quando abro os olhos estou pulando do precipício sem saber o motivo. Queria que alguém pudesse encher meu cérebro de razão. Se tivesse uma árvore de razão eu juntaria todas as minhas economias pra tê-la. Você está sentado no banco daquele metrô, mas você está distante demais pra perceber que pode ser bom. Prefere ficar sozinho olhando na janela. Você é como aquelas lindas plantinhas que encontramos no meio de uma trilha e ficamos na dúvida se devemos levá-la pra colocarmos no vasinho ou deixá-la em seu habitat e ficarmos só observando. E eu estou nesse ponto. Não sei se te levo ou se te deixo. Nem sei se no vasinho você vai ficar tão interessante o quanto você é aí. E nesse instante estou olhando pra plantinha.
terça-feira, 6 de abril de 2010
Inteiro
Somos jovens e morreremos velhos. Você nasce, cresce, envelhece e morre. Todos nós sabemos disso. Quando nossos avôs morrem ficamos tristes, abatidos, mas esse é o ciclo da vida. Todos nós aceitamos isso. E quando alguém que deveria estar nesse exato momento rindo numa roda de amigos não está lá? E quando você tem certeza que amanhã e depois de amanhã ela também não estará ali? E quando a pessoa traça planos a longo prazo e esse prazo já não existe mais? Não conseguimos saber e muito menos aceitar.
O que nós sabemos é que viajaremos nos feriados, que viveremos amores, que sofreremos de amor, que trabalharemos muito, que teremos amizades curtas, que teremos amizades pra vida inteira. Mas como medir a vida inteira?
Hoje descobri que a vida não se mede. A vida se vive. A vida inteira pode ser uma medida de grandeza, porém não possui nenhuma padronização. A minha vida inteira não é a sua vida inteira. Mas as duas vidas são inteiras. E o que podemos fazer diante dessa constatação? Encher nosso inteiro. E como não sabemos o limite desse inteiro, seria desnecessário dizer que nele não cabem coisas que não valham a pena. Obviamente que existem coisas que preencherão nosso inteiro e que não são exatamente o que nós queríamos, mas se estiverem fora do nosso alcance escolhê-las deveremos aceitá-las, pois algo que nos entristece ou que nos priva pode nos fortalecer. Agora cabe encher o restante do nosso inteiro de coisas que podemos escolher. Então escolheremos as conversas intermináveis, escolheremos o mar, escolheremos não correr dos pingos de chuva, escolheremos sermos ridículos de vez em quando, escolheremos rir do que for ridículo, escolheremos a gargalhada mais alta, escolheremos o sorriso mais sincero. Não escolheremos os amigos, pois por sorte são eles que nos escolhem. Escolheremos as coisas simples da vida, escolheremos não correr contra o tempo. Contra o tempo não se corre, pois caminhamos junto com ele. Escolheremos nossas escolhas.
Talvez achemos que alguém possa ter enchido seu inteiro antes do tempo. Se foi enchido é porque já é inteiro. Lembremos de quantos sorrisos que ela deu, quantos abraços, quantas lágrimas, quantas situações incrivelmente hilárias, quantos tombos, quantas reviravoltas , quantas decepções, quantas alegrias, quantos amigos. Daí podemos crer que não é que seu inteiro seja menor que o nosso, mas ela já teve mais quantos que nós. Suas escolhas foram feitas. Ela teve suas conversas intermináveis, escolheu o mar, escolheu não correr dos pingos de chuva, escolher ser ridícula de vez em quando, escolheu rir do que foi ridículo, escolheu a gargalhada mais alta, escolheu o sorriso mais sincero. Foi escolhida por seus amigos. Escolheu as coisas simples da vida, escolheu não correr contra o tempo .
Então a melhor escolha que temos a fazer é lembrarmos dos sorrisos, dos abraços, da alegria, das conversas intermináveis, das gargalhadas, da chuva e esquecermos do tempo. O tempo não existe quando existem boas recordações.
quinta-feira, 25 de março de 2010
2010
Preguicinha que tomou conta de mim e fez com que me ausentasse por alguns bons meses. Espero conseguir continuar a escrever com regularidade, pois só assim consigo desembolar esse grande novelo de pensamentos. Muitas coisas mudaram e muitas coisas não mudaram. Minhas esperanças não mudaram, mas já não conseguem caminhar ao lado das minhas crenças. Não estou pessimista, talvez mais reflexiva. É bom refletir pra avaliarmos os riscos e sabermos o que realmente vale a pena arriscar. Alguém pode achar que seja sinal de fraqueza, mas também pode ser experiência. Hoje não quero mais bater a cabeça na parede e muito menos me jogar no abismo. Quero ficar assistindo filminhos comendo pipoca e discutir coisas sem nexo numa roda de amigos. Quero ter a concentração de um monge pra tentar ler aquele livro de mil páginas que ainda não folheei. Aventuras só as quero se forem acompanhadas de uma trilha que termina numa praia paradisíaca. E principalmente quero ter certeza quando eu tiver que correr riscos. Mas e se não existir certeza?
domingo, 9 de novembro de 2008
Qual é a cor?
“E estamos muito perto de termos o primeiro presidente negro dos EUA”. Essa frase dita por um repórter foi suficiente pra que as lágrimas caíssem dos meus olhos. Na manhã do dia seguinte tive a confirmação. Não sei se todos os negros tiveram esse mesmo sentimento, mas a verdade é que pelo menos a maioria de nós naquela quarta-feira acordou mais esperançosa. Sei que não podemos ser utópicos a ponto de achar que Obama irá resolver todos os problemas do mundo e será um presidente perfeito. Não podemos afirmar nada. Mas temos certeza que o dia 05 de novembro de 2008 ficará marcado na história. O dia em que a população da maior potência do mundo deixou de lado seus olhares conservadores e resolveu agir com o coração.
E uma coisa lhes digo: não á fácil ser negro. Quando você cresce numa favela onde a grande maioria dos habitantes é negra, talvez seja menos complicada a convivência, apesar de terem problemas muito mais complexos. Já para quem felizmente pôde ter melhores condições de crescimento, a adaptabilidade no seu meio pode ser um pouco mais demorada, pois existem menos negros e mais pessoas mal informadas. O meu caso é bem particular, pois sou o resultado de uma miscigenação, tenho uma avó branca e uma avó negra o que fez com que tivesse uma visão muito mais ampla sobre essa questão.
E uma coisa lhes digo: não á fácil ser negro. Quando você cresce numa favela onde a grande maioria dos habitantes é negra, talvez seja menos complicada a convivência, apesar de terem problemas muito mais complexos. Já para quem felizmente pôde ter melhores condições de crescimento, a adaptabilidade no seu meio pode ser um pouco mais demorada, pois existem menos negros e mais pessoas mal informadas. O meu caso é bem particular, pois sou o resultado de uma miscigenação, tenho uma avó branca e uma avó negra o que fez com que tivesse uma visão muito mais ampla sobre essa questão.
Quando era criança já passei por situações embaraçosas, mas aprendi a lidar com isso da melhor maneira possível. Hoje é minha priminha que está passando pelas mesmas coisas que eu vivi há muito tempo atrás. Ela é uma menininha negra lindíssima e agora começa a questionar sobre a cor da sua pele e seu cabelo, perguntas que não deveriam estar afligindo a cabecinha de uma criança de quatro anos. Em casa ela recebe a melhor educação de uma família negra e forte, mas na escola existem as crianças que não tem o mesmo tipo de preparo. São criados por pais desorientados, com uma visão restrita da sociedade e esses valores acabam sendo adquiridos pelos seus filhos, que podem se tornar crianças maldosas e mais tarde adultos preconceituosos. Isso não acontece com a família da melhor amiga da minha priminha, uma menina adorável de olhos verdes. As duas se conhecem desde que minha prima nasceu e não se desgrudam desde então. As famílias apóiam e incentivam a amizade, o que vai ser bom para ambas que desde cedo têm certeza que a amizade independe de qualquer atributo físico, classe social ou qualquer coisa que separe, pois a amizade nos une.
A verdade é que tenho orgulho de ser negra. E apesar da mistura que tive que resultou não só uma mistura de raças, mas principalmente de culturas, me sinto muito negra. Só não sei se os negros têm orgulho de mim. E ainda bem que zumbi não está vivo pra me ver sambando, pois seria uma decepção. Acho que um gringo numa roda de samba se move melhor que eu. E eu tentei. Juro que tentei diversas vezes, mas nem levo jeito mesmo. Minhas tias parecem passistas de escola de samba quando entram numa roda, e eu fico com minha cara de broa, como quem diz me esperem que eu estou só descansando. E fico descansando umas cinco horas no mínimo. Além disso, a outra decepção que não é da comunidade, mas sim da minha tia-avó, é o fato dela estar esperando até hoje eu adentrar pela porta de sua casa com meu novo namorado negro, forte, alto, bem sucedido, com uma aliança de 100 quilates e a realidade é que nem cheguei a apresentar os branquelos, doidos que passam a jato pela minha vida e que saem antes que alguém veja a cara do sujeito. Óbvio que é brincadeira, e que minha tia-avó, que se casou com um homem branco e não tem nenhum tipo de restrição, só quer me ver feliz.
Mas voltando ao assunto anterior, agora só espero que tudo o que temos planejado e sonhado para o nosso mundo possa se concretizar. Que esse seja o início de uma nova era, mais justa, que avalie o potencial dos indivíduos de forma similar, que sejam os brancos, que sejam os negros, que sejam todos que tenham capacidade e que sejam realmente bons aqueles que irão comandar nossas nações a uma direção melhor.
Mas voltando ao assunto anterior, agora só espero que tudo o que temos planejado e sonhado para o nosso mundo possa se concretizar. Que esse seja o início de uma nova era, mais justa, que avalie o potencial dos indivíduos de forma similar, que sejam os brancos, que sejam os negros, que sejam todos que tenham capacidade e que sejam realmente bons aqueles que irão comandar nossas nações a uma direção melhor.
domingo, 2 de novembro de 2008
?
Homens e seu constante transtorno bipolar.
Não sei se ligam porque estão com saudade ou se é pra gastar o bônus do celular.
Não sei se não ligam porque aconteceu alguma catástrofe ou estavam de ressaca do dia anterior.
Não sei se são realmente desligados ou simulam ser.
Não se estão rindo pra mim ou de mim.
Não sei falam conosco, pois sentem nossa falta ou se sentem incomodados com nossa indiferença.
Não sei querem estar ao nosso lado porque gostam ou por mera carência.
Não sei se pensam em se casar ou só nos poupam para nos dar como parte do pagamento em suas dívidas de jogo.
Não sei se o pra sempre é por toda a eternidade ou até amanhã.
Não sei se querem sair naquele sábado pra nos agradar ou porque seus amigos não o procuraram.
Não sei se nos convidam pra sair naquele sábado e nos deixam esperando porque um meteoro se colidiu com a Terra ou porque seus amigos o procuraram.
Não sei se não querem nos ver porque não tem grana ou se estão economizando grana pra comprar mais cerveja.
Não sei se quando dizem sermos as mulheres da vida deles, eles têm uma vida ou na verdade eles são gatos.
Não sei se é complexo ou eles que querem que seja.
Não sei se quando dizem que estão apaixonados é sincero ou se simplesmente querem ver a nossa cara de idiota.
Não sei se quando dizem que somos especiais é bom ou é um indício que eles querem cair fora.
Não sei se acreditam no amor ou apenas tentam nos iludir com provas de amor.
Não sei se ligam porque estão com saudade ou se é pra gastar o bônus do celular.
Não sei se não ligam porque aconteceu alguma catástrofe ou estavam de ressaca do dia anterior.
Não sei se são realmente desligados ou simulam ser.
Não se estão rindo pra mim ou de mim.
Não sei falam conosco, pois sentem nossa falta ou se sentem incomodados com nossa indiferença.
Não sei querem estar ao nosso lado porque gostam ou por mera carência.
Não sei se pensam em se casar ou só nos poupam para nos dar como parte do pagamento em suas dívidas de jogo.
Não sei se o pra sempre é por toda a eternidade ou até amanhã.
Não sei se querem sair naquele sábado pra nos agradar ou porque seus amigos não o procuraram.
Não sei se nos convidam pra sair naquele sábado e nos deixam esperando porque um meteoro se colidiu com a Terra ou porque seus amigos o procuraram.
Não sei se não querem nos ver porque não tem grana ou se estão economizando grana pra comprar mais cerveja.
Não sei se quando dizem sermos as mulheres da vida deles, eles têm uma vida ou na verdade eles são gatos.
Não sei se é complexo ou eles que querem que seja.
Não sei se quando dizem que estão apaixonados é sincero ou se simplesmente querem ver a nossa cara de idiota.
Não sei se quando dizem que somos especiais é bom ou é um indício que eles querem cair fora.
Não sei se acreditam no amor ou apenas tentam nos iludir com provas de amor.
sábado, 18 de outubro de 2008
Crise
Outro dia estava participando de uma discussão sobre a queda da bolsa de valores e as conseqüências devastadoras que vem trazendo à economia mundial. Na volta pra casa parei pra calcular o estrago que a minha crise financeira vem causando em minha vida.
Quando era mais nova era muito segura quando se tratava de dinheiro. Entrei na faculdade, consegui um estágio onde ganhava 260 reais e com esse dinheiro pagava minhas pequenas contas e saia com meus amigos de vez em quando. Depois me mudei para um emprego e com um salário melhor. E a partir daí vieram os cartões de lojas, cheque especial e um pouco mais tarde os cartões de crédito.
Na época em que comecei a usar meu especial, que era bem pouco, conseguia cobri-lo todo mês sem nenhum problema. Então logo aumentaram meu limite e comecei a gastá-lo. Todo. Lembro-me da primeira vez que usei meu cartão de crédito. Foi pra comprar um bota de couro que já estava namorando há alguns meses e o resto da história vocês já sabem. Só que um belo dia descobri que não tinha como saldar minhas dívidas dos meus dois cartões então comecei a pagar o mínimo, quando conseguia pagar, e essa dívida vem virando uma bola de neve que está prestes a me atropelar.
Foi quando percebi que havia alguma coisa estranha. Os bancos que antes se estapeavam pra que eu adquirisse algum dos seus produtos não me procuravam mais. No início achei ótimo, mas eu sabia que tinha algo errado nisso tudo.
Então estava em casa tranqüila, num dos raros momentos em que não estou fazendo nada e eis que toca o telefone. Do outro lado da linha uma daquelas atendentes com aquela voz tão amistosa e que todos nós adoramos ouvir. Disse que era da central de relacionamentos do banco e que havia verificado que constavam débitos em meu nome e me perguntou o porquê de eu não estar pagando e quando eu iria quitá-los.
Se eles perceberam bem, puderam constatar que estou praticamente falida. Dá pra ver que eu não estou rasgando dinheiro e que não estou fazendo nenhum tipo de manifestação anticapitalista usando o dinheiro deles como forma de combate à hegemonia das grandes organizações na sociedade. E como minha resposta era óbvia resolvi omiti-la, disse qualquer coisa e a querida atendente obviamente também não ficou satisfeita e vem me perseguindo desde então.
Mas agora já estou com minha fala pronta pra da próxima vez que ela vier a ligar pra mim:
-Alô!
-Boa tarde. Gostaria de falar com a Sra. Daiane.
- Pois não, é ela quem está falando.
- Sra. Daiane , eu sou da central de relacionamentos ao cliente e estão constando em nossos cadastros débitos referentes a produtos que a senhora adquiriu conosco. A senhora confirma essas informações?
- Sim, confirmo.
- Gostaria de estar sabendo quando a senhora estará saldando esses débitos e porque a senhora não pagou nas datas certas de vencimento.
- Então. Estou esperando que um meteoro se colida com a Terra e extermine toda a raça humana. Já que não iremos mais existir então ficarei isenta de pagar qualquer coisa a qualquer pessoa. E se resistirmos, teremos que conviver com uma camada de poeira escura e densa que impedirá que as pessoas consigam se identificar. Então provavelmente vocês não me acharão mais. Espero ansiosamente por isso.
É certo que não farei isso porque no fim das contas eu estou errada e a atendente apesar de ser irritante nem tem nada a ver com minhas dívidas. Sei que vou conseguir acabar com isso até no fim do ano, mas também não vou ter dinheiro nem pra comprar uma bala na mercearia. Decretei fim ao meu Carnaval em algum lugar paradisíaco ou minha viagem de mochila pela América do Sul, mas pelo menos vou dormir tranqüila.
O mais engraçado disso tudo é que hoje recebi uma outra ligação do banco é desta vez foi totalmente diferente das usuais. Um rapaz com a voz de Johnny Depp perguntou se a Daiane estava. Eu logo imaginei que seria de algum banco porque um rapaz com a voz de Johnny Depp nunca ligaria pra mim as onze da manhã, mas afinal é o rapaz com a voz de Johnny Depp então nem poderia deixar de atende-lo.
- Bom dia poderia falar com a Daiane?
- Pois não, é ela quem fala.
- Poxa como deve estar aproveitando muito esse calorão hein!
É nessa parte que eu fico confusa e até chego a pensar se poderia realmente ser meu rapaz com voz de Johnny Depp. Óbvio que não! Mas continuando ele pergunta:
- Você mora no Rio ou em Niterói?
Então eu caí na real e percebi que não era o Johnny Depp, realmente lamentável. Ele faz parte de uma nova geração de atendentes que está mais preparada pra atender um público “jovem” e parece ter tomado alguma sopa alucinógena. Adorei!
- Não moro em nenhuma das duas, sou de Volta Redonda.
- Ahhh Volta Redonda! Mas aí deve estar calor também né!
- Está sim.
- Nós agradecemos você estar no nosso banco e estamos muito satisfeitos por isso. (????) Então Daiane, você costuma economizar dinheiro?
- Eu não. Nunca.
- Nunca? Sério?
- Aham.
- Poxa eu também não consigo juntar dinheiro. Mas Daiane eu te liguei porque tenho uma ótima proposta pra fazer pra você. Nós do banco estamos fazendo uma promoção e convidando somente alguns correntistas para adquirirem uma poupança onde você pagaria todo mês um valor bem reduzido.
- Filho eu estou falida.
- É??? Poxa eu também tô falido!! (???)
Então ele faz uma pequena pausa e eu fiquei com cara de pamonha esperando ele falar mais alguma coisa e ele continuou:
- Foi mal. Eu espirrei! Mas continuando, tenho certeza que você faria um ótimo negócio porque além de você conseguir juntar dinheiro pra fazer aquela viagem de final de ano você vai concorrer a vários prêmios.
- Faz o seguinte então. Me ligue o ano que vem quando eu acabar com as minhas contas que eu faço essa tal poupança.
- Mas Daiane essa promoção é somente pra alguns correntistas e nem sei se vai ter depois. Por algum motivo somente alguns estão nessa lista e você está entre eles.
Nessa hora realmente tive certeza que ele tinha tomado alguma coisa. Uma vez o banco me ligou dizendo que eu fazia parte de uma tal de lista CV, que é uma coisa ruim, mas nem sei exatamente o que é. E hoje eu devo estar entre os Top 10 dessa lista. Provavelmente ele trocou a lista dos clientes em ascensão por esta lista CV e como eu era uma das primeiras do ranking, logicamente imaginou meu futuro promissor e que eu iria querer depositar 500 reais nessa tal poupança ou então ele achou que estava no mundo dos duendes saltitantes e pegou a primeira lista que tinha na frente. Pelo nosso ótimo papo tenho quase certeza que é a segunda opção. Então quando o coitado deu por si que eu não tinha dinheiro mesmo, nem moedinhas pra colocar no cofrinho se despediu de mim e agradeceu pela atenção.
- Foi mal. Eu espirrei! Mas continuando, tenho certeza que você faria um ótimo negócio porque além de você conseguir juntar dinheiro pra fazer aquela viagem de final de ano você vai concorrer a vários prêmios.
- Faz o seguinte então. Me ligue o ano que vem quando eu acabar com as minhas contas que eu faço essa tal poupança.
- Mas Daiane essa promoção é somente pra alguns correntistas e nem sei se vai ter depois. Por algum motivo somente alguns estão nessa lista e você está entre eles.
Nessa hora realmente tive certeza que ele tinha tomado alguma coisa. Uma vez o banco me ligou dizendo que eu fazia parte de uma tal de lista CV, que é uma coisa ruim, mas nem sei exatamente o que é. E hoje eu devo estar entre os Top 10 dessa lista. Provavelmente ele trocou a lista dos clientes em ascensão por esta lista CV e como eu era uma das primeiras do ranking, logicamente imaginou meu futuro promissor e que eu iria querer depositar 500 reais nessa tal poupança ou então ele achou que estava no mundo dos duendes saltitantes e pegou a primeira lista que tinha na frente. Pelo nosso ótimo papo tenho quase certeza que é a segunda opção. Então quando o coitado deu por si que eu não tinha dinheiro mesmo, nem moedinhas pra colocar no cofrinho se despediu de mim e agradeceu pela atenção.
No fim das contas ele me passou confiança e eu tivesse algo pra investir com certeza investiria nessa tal poupança psicodélica.
Só sei que com a experiência que adquiri consigo identificar um atendente de banco antes dele falar a primeira palavra e já que estou numa recessão sem fim e que todo mundo hoje ganha dinheiro com tudo penso em dar consultoria e palestras sobre isso. “Como dispensar gentilmente um atendente em dois segundos sem desligar o telefone na cara dele e sem xingar sua mãe”. Depois escrevo um livro e ficará faltando somente a árvore e o filho.
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