quarta-feira, 23 de julho de 2008

A fila

E como derrotada convicta no joguinho de sinuca on-line, eu me retiro da fila que havia entrado nos últimos meses. Pra dizer a verdade não encaro isso como uma perda, mas sim como um modo de procurar outros caminhos, nesse caso outras filas. Acho que o nosso otimismo de nada vale se o instinto não diz o mesmo. Todas sabemos que o instinto feminino não falha e o meu dizia pra eu ir com calma, pois ali poderiam ter espinhos, e foi o que eu fiz. Coloquei minha cadeira na fila e fiquei por algum tempo, sem pressa, olhando as coisas ao redor, conversando com as pessoas, jogando palavras cruzadas.
Engraçado que ao entrarmos numa fila esperamos que quando formos atendidos nossos problemas serão resolvidos e na verdade as coisas não funcionam bem assim. Vi alguns ataques de kamikazes, descaso no atendimento e então no meio da fila decidi abandona-la.
Não sei se seria atendida e se valeria a pena o tempo que empreguei.
Tenho certeza que foi a melhor decisão a ser tomada e não tenho mais nada a declarar.
Sabemos que para certos tipos de homens sempre haverão filas e sempre haverão kamikazes prontas para furá-las. São os famosos rockstars, homens que tem os atributos ideais, que arrancam suspiros com um olhar e que nos fazem cair no bueiro de tampa aberta quando passam.
Para algumas o rockstar é aquele cara sarado, que freqüenta as melhores baladas, se veste com as melhores marcas e é bem sucedido. Já o meu rockstar é no sentido mais literal da palavra. Ele não tem todas as características de um rockstar, mas geralmente possui atributos isolados que o fazem assim. Alguns se assemelham mais pelo visual, outros tocam algum instrumento e ambos tem em comum a paixão pela boa música, o carisma, as fãs que os acompanham e o fato serem descompassados. Desde os mais certinhos até os mais revoltados, todos os meus rockstars possuem esse elo de ligação.
Sinceramente não há como entendê-los, pois não tenho a mínima idéia do que estão pensando, se estão rindo de mim ou pra mim, se me amam ou me odeiam, se pensam em se casar comigo ou só estão me poupando pra me dar como parte do pagamento em suas dívidas de jogo.
Sei que atraio esse tipo homem, mas eu também os busco. Minhas amigas me dizem que por eu estereotipar o meu homem ideal eu fecho as portas para outros que poderiam me trazer um relacionamento mais ameno e concreto, longe de toda a incerteza e insegurança que um rockstar proporciona. Elas estão certíssimas, mas vá dizer isso pra mim depois de uma meia hora de conversa com um cara que tem a discografia do Manu Chao.
Pois é, eles têm suas vantagens. Esses seres descompassados são mais inteligentes que a média, sabem conversar sobre todos os assuntos e se você de alguma forma conseguir desvendar 0,01 % do seu mistério provavelmente comporão uma música em sua homenagem.
È óbvio que depois de alguns meses estarão tocando a mesma música para sua legião de adoradoras e você não irá conseguir chegar mais perto deles.
Essa é a pior parte, a mais difícil de aceitar, mas eles são assim. O que acho legal nisso é que apesar de não sabermos como lidar e de termos praticamente certeza de que não será duradouro, podemos crer que de alguma forma fizemos a diferença na vida deles. Não nos esquecemos de uma música, pois a música é atemporal. Por mais que as coisas mudem, que os sentimentos também mudem, ela sempre estará ali. E acho que isso vale não só para os meus rockstars, mas para o de todas nós e em todas suas variações.
Eu sei que posso ter feito diferença. Não digo isso por vantagem ou conformismo, mas é que quando conseguimos entrar em suas vidas, mesmo que sejam por frações de segundos é sinal que somos dotadas de algo que as kamikazes não possuem ou conseguem compreender. Não sei se isso é bom ou não. Pra mim provavelmente nem seja porque continuo aqui falando que nem pobre na chuva. Mas que nos sirva como prova que não precisamos dançar conforme a música, de mudar de lado, de nos mudar, por pensar que estamos agindo errado ou não agindo e por achar que talvez estejamos sendo antiquadas para os padrões da sociedade.
E tenho certeza que é desse jeito e por esse jeito que ainda iremos achar alguém nos dedique não só uma música, mas todo um álbum.

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